Se você começou a perceber que o mundo está cada vez mais sem cor, não é a sua imaginação, mas a realidade!
Você sabe me responder por que raramente você vê carros roxos na estrada? Ou por que existem pouquíssimos prédios coloridos? Por que o nude e o preto são considerados chiques e elegantes?
Bem recentemente, em agosto de 2022, uma pesquisa publicada na Inc., um dos principais portais de notícias de negócios e tecnologia do mundo, afirma que por inteligência artificial foram analisadas milhares de imagens e a conclusão está clara: as cores estão desaparecendo.
Esse algoritmo analisou as mudanças de cores ao longo do tempo e documentou várias imagens, fotografias e quadros, desde o século XVII. Mais ou menos de 1800 para cá. Os resultados são super interessantes e ilustram bem o que está acontecendo com as cores no mundo.
Segundo a pesquisa, há 2 séculos, havia uma mistura de diferentes cores na nossa representação de mundo. Os tons brancos, pretos e cinzas representavam apenas 15% do total das cores utilizadas. Hoje, quase 60% de todas as cores no mundo estão entre essas 3 variações. Estamos desbotando e literalmente e sendo dominados por objetos, apetrechos e materiais na cor branca, preta ou cinza. 70% de todos os carros produzidos são brancos, pretos ou cinza, ou seja, a cada 10 carros que passam na sua rua, todo dia, 7 são monocromáticos. Já era, o vermelho Ferrari, agora é só na Ferrari mesmo (risos). Carros verdes, amarelos, azuis ou de outras cores, existem bem poucos.
E não é só na gigante indústria automobilística o único indício que as cores estão desaparecendo do mundo. Elas estão desaparecendo das casas, das roupas e até do McDonald’s, que era absurdamente colorido.
No mercado de design de interiores, a cor mais solicitada de carpete e tecidos em geral é a cinza. As cores mais vendidas de tinta, são chamadas de “neblina”, “névoa” e “papel picado”. São todas também em tonalidades de cinza. No mercado da moda, se juntarmos as tonalidades de cinza e os nudes , já são quase 50% das roupas disseminando a forma monocromática. Tudo para parecer mais chique. Será?
Mas não foi sempre assim. Há mais de 300 anos, A. Boogert , artista mundialmente conhecido nas agências, nas artes, na moda, nas latas de tintas e em cada indústria de produção da nossa vida criou a primeira versão do que seria um “dicionário de cores”. Em 1692, ele escreveu à mão um livro com mais de 800 páginas documentando todas as cores e tons usados naquele período. O famoso Pantone. Para quem não sabe, o Pantone é a principal referência de cores no mundo. Produziu estudos de cores das últimas décadas nos orientando praticamente por toda a história moderna , com guias industriais de cores que nós usamos até hoje. São milhares de cartõezinhos que classificam todas as cores possíveis e inimagináveis, incluindo tonalidade, nível de luz, contraste, e vários outros aspectos importantes.
Mas então, o que mudou?
Nessa mesma pesquisa de 2022, provou-se que vivemos com menos de 50% das cores que nós usávamos no passado. Os pesquisadores perceberam que até mesmo as logos usadas por grandes marcas sofreram mudanças significativas nos últimos anos. Em geral, elas ficaram mais apagadas, com cores menos vibrantes e letras pretas todas em maiúsculo.
Vocês já perceberam isso?
Lembre como a logo da Disney era colorida e grande? Hoje, apenas uma palavra em preto e branco. Marcas famosas como Yves Saint Laurent, Balenciaga, Balmain e outras, seguiram a mesma tendência. Uma outra explicação por trás dessa tomada de decisão monocromática, é que as empresas querem vender mais e para mais pessoas. Por isso, é preciso evitar cores que agradem ou desagradem demais – qualquer coisa em excesso, seja para o bem ou para o mal, é imediatamente descartada.
Segundo Nick Hobson, cientista comportamental da Apex Scoring Solutions e professor da Universidade de Toronto, diz que isso também é um reflexo direto dos nossos algoritmos e dados para ler a realidade. Afinal, quando você junta uma massa quase infinita de dados, a resposta óbvia que você vai extrair disso é justamente a média. E conforme mais e mais pessoas e empresas vão tentando se encaixar no novo padrão, mais as coisas ficam medianas e sem graça.
Um artigo publicado pela CNN Business mostrou que até as embalagens estão cada vez mais brancas e cinzas. Segunda essa pesquisa, a maioria das coisas ao seu redor estão se tornando monocromáticas por dois motivos: a inflação, que deixou o custo da impressão de embalagens coloridas mais caro ao longo dos anos, e também para se encaixar no atual padrão mais facilmente replicável.
Assim, das empresas de carros a banquinhos de cozinha, as cores facilmente replicáveis e que estão dentro da massa, não causam oposições nem ofendem ninguém (risos de nervoso), conseguem baratear grandes quantidades iguais e vender em qualquer local do planeta sem ter que adaptar a nenhum gosto, gênero, raça ou cultura.
Os nudes, pretos e brancos, que foram consagrados como basiquinhos e sem erro, foram elevados ao status de chiquérrimo, elegante e milionário. As cores foram rebaixadas para pessoas sem classe, populares, pobres ou até fantasias. Se você achava que era só a polaridade dos assuntos, os feed de massas sem pensamento, agora engole essa. Você está sendo obrigado a ser desbotado para que o mundo venda mais, fique igual e seja aceito.
Biologicamente, nós temos uma tendência a repetir o comportamento das outras pessoas que fazem parte do nosso grupo, o efeito manada. Quem disse isso foi o pesquisador britânico Wilfred Trotter, em 1914. Um fenômeno muito estudado nas ciências sociais, psicologia e na economia. Acontece quando uma pessoa é “contagiada” pelo comportamento de outras pessoas, mesmo que não tenha nenhuma decisão consciente de imitar o que o outro está fazendo. Os pesquisadores endentem que isso acontece porque adquirimos informações para tomada de decisão observando o que os outros estão fazendo, e isso influencia em grande parte o nosso comportamento.
Neurobiologicamente, isso acontece porque o nosso cérebro não consegue dar conta de processar todas as informações que chegam a todo instante. Por isso, o nosso cérebro usa atalhos para tomar uma decisão de maneira rápida.
Uma boa explicação do porque as redes sociais e as empresas conseguem deixar tudo com a mesma cara e ainda vender milhões, nos convencendo que é algo exclusivo e super chique.
Mas e se eu te dissesse que tem algo ainda pior do que isso?
O mundo ficar mais preto e branco não afeta só o seu guarda-roupa, seu carro ou o a sua casa. Afeta também a sua felicidade e bem-estar.De um ponto de vista psicológico e biológico, as cores nos fazem feliz. E estamos sendo privados da felicidade em nome da “chiquesa” do mundo. Quando a gente pensa sobre o impacto das cores no nosso bem-estar e até na nossa felicidade, essa mudança é importante de ser analisada.
Vários estudos mostram que só de olhar para cores, viver perto da natureza, que é naturalmente colorida, vestir roupas coloridas, nós liberamos dopamina, conhecida como o hormônio do bem-estar. Em 2010 professores da Universidade de Chiba, no Japão, provaram que visitar espaços verdes, como parques, jardins e florestas, reduz os níveis de cortisol e estimula a produção de dopamina. O cortisol é conhecido como um dos vilões do nosso bem-estar. O nível de cortisol elevado está relacionado com o aparecimento de doenças, como dor crônica, depressão, ansiedade, doenças cardiovasculares e inflamatórias, e até mesmo maiores chances de desenvolver câncer.
Além disso, uma outra pesquisa interessantíssima publicada em 2015 pela Universidade do Irã mostra que a exposição às cores verde e azul aumentou a concentração sanguínea de dopamina em alguns animais. Existem inclusive experimentos tentando usar essa descoberta para tratar de doenças psiquiátricas como depressão, onde existe uma deficiência biológica. Segundo essa mesma pesquisa, tons de cinza, preto e vermelho aumentavam os níveis de depressão e agressividade.
O psiquiatra suíço Max Lüscher descobriu nos seus experimentos que a nossa preferência por uma cor ou outra tem muito a ver com o nosso humor do momento. Partindo dessa pesquisa, na década de 70, Alexander Schauss, diretor do Instituto Americano de Pesquisa Biossocial , queria descobrir se ficar exposto a uma cor determinada poderia influenciar o estado mental e físico das pessoas. Para isso, pediu para pessoas olharem para uma cartolina azul ou rosa por um minuto e na sequência, solicitou que carregassem pesos. E pasmem: depois de olhar para a cartolia rosa, havia uma perde de força de até 26% quando comparado com as pessoas que olharam a cor azul. Além disso, ele descobriu que esse tom específico de rosa , diminui a frequência dos batimentos cardíacos e a respiração, deixando as pessoas mais calmas, aliviando o sentimento de depressão, tristeza e ansiedade.
Inclusive, esse tom de rosa, foi adotado nas prisões dos EUA e da Suíça. A experiência provou que os prisioneiros ficavam mais calmos com apenas 15 minutos por dia em celas rosas. Depois de 9 meses, esses prisioneiros não apresentavam comportamentos violentos nem brigavam com outras pessoas.
No mundo da arte, o que te encanta? Quando você vai a um museu, você se conecta às cores usadas pelos artistas? O que seria de Monet, Cavali, Matisse e outros artistas que exploraram a realidade da cor? Você imaginou como esses artistas iriam retratar a realidade se o mundo fosse desbotado?
A arte tem um poder curativo sobre nós, principalmente quando a maneira como nós entramos em contato com ela é através de um museu. Uma pesquisa chamada “Museu, Saúde e Bem-estar”, publicada por estudiosos britânicos em 2013, mostrou que os museus podem fazer as pessoas mais felizes e mais saudáveis.Os pesquisadores encontraram alguns motivos para isso, mas o principal foi que apreciar arte com um grupo proporciona experiência sociais positivas e aumenta a sensação de esperança e bem-estar que sentimos ao olhar as obras.
Vamos fazer uma experiência.
Por alguns instantes, feche seus olhos e imagine o mundo inteiro preto e branco. Inclusive as pessoas. Bizarro, né? Você viaja à Jaipur e o rosa da Índia não existe mais. O azul de Marrocos deixa de ser uma referência de cor. E os museus mais parecem delegacias ou estradas, ou pior armazenamento de armas. Você já viu armas coloridas? O mundo bélico é preto e branco.
Então, fica aí o alerta. A massificação de ideias, sonhos, cores, feeds, pode levar a humanidade a perder a criatividade e definitivamente morrer de monotonia e tristeza. Esse foi um manifesto para te levar de volta às cores da vida!
Fonte: Flávia Lippi
Executive Life & Career Strategist
Consultora em Sustentabilidade Humana Pessoal e Organizacional. Observadora de tendências e curadora de ideias. Palestrante e escritora. Fundadora do IDHL – Instituto de Desenvolvimento Humano Lippi. Há mais de 25 anos se dedica à promoção do bem-estar e qualidade de vida.
Instituto de Desenvolvimento Humano Lippi
O IDHL – Instituto de Desenvolvimento Humano Lippi – é uma ONG, fundada há 25 anos, com parceiros mundiais, especializada no desenvolvimento, na transformação e na formação de pessoas.
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