Você talvez tenha visto o rosto dela muitas vezes sem saber quem ela era. Nascida em 1878 em Paris, Julie Manet era filha dos famosos pintores Berthe Mirosot e Eugene Manet. Ambos faziam parte do influente círculo impressionista. O movimento artístico do século XIX era muito radical na época devido ao seu estilo “hiper-real” e ao uso de cores vivas.Pintora e escritora, Julie Manet era mais conhecida por ser modelo e posou desde muito cedo para alguns dos mais famosos artistas impressionistas. Isso inclui seus pais e, mais particularmente, sua mãe, que supostamente pintou cerca de 125 a 150 quadros dela. Ela também posou para outros pintores como Pierre-August Renoir, Edgar Degas e seu notório tio, Edouard Manet.
A pintura mais famosa em que ela aparece é “Criança com gato”, feita por Renoir em 1887. Encomendada por seus pais, o retrato é frequentemente mencionado entre as obras-primas do movimento. Na foto, podemos ver Julie sentada, calma e sorridente. Outro personagem marcante neste retrato é o gato que ela está segurando no colo e que imita seu sorriso. A imagem transmite familiaridade, alegria, tranquilidade e nos lembra que a felicidade está nas pequenas coisas.
Porém, ela era mais do que uma musa. Ela era realmente influente dentro da cena impressionista. Crescendo em um ambiente bastante burguês, Julie teve uma educação muito rica e rigorosa. Além de sua formação artística, que consistia em um treinamento de desenho e pintura, ela tocava violino e piano. Ela também frequentou os maiores eventos culturais da capital. No entanto, sua vida deu uma guinada inesperada ao perder o pai aos 14 anos e a mãe aos 16. Apesar dessa tragédia, ela permaneceu muito ativa no mundo cultural. Após a morte de seus pais, o pintor Renoir se tornou seu mentor, enquanto o escritor Stéphane Mallarme se tornou seu tutor. Ela até continuou a posar para pinturas!
No entanto, pouco se sabia sobre ela. Isso mudou em 1987, quando seus diários pessoais de adolescente foram publicados. Com o novo título “Crescendo com os impressionistas”, seu diário revela o interior dessa cena artística. Através de relatos de conversas particulares, podemos ver como eram os impressionistas no seu dia-a-dia. Ela também fala longamente sobre política e grandes eventos sociais ocorridos naquele período. O mais memorável é o Caso Dreyfus, um escândalo político que dividiu a França em 1894. Ao longo de seu livro, aprendemos que, entre outras coisas, Degas era anti-semita enquanto Pissaro era libertário. Também a conhecemos com maior profundidade quando ela compartilha suas angústias e revela sérios problemas de confiança. Descobrimos também que ela era muito religiosa, uma cristã bastante dedicada e que nunca faltava à missa.
Embora os escritos cubram apenas um período específico de sua vida, conseguimos ter uma noção de quem era Julie Manet, mudando completamente nossa relação com seus retratos. Mais tarde, ela se casou com o pintor Henri Rouart, com quem teve três filhos. Ela também se dedicou a salvaguardar o legado de sua mãe e o seu próprio! Morta aos 87 anos, é como se ela ainda estivesse viva, com alguns de seus retratos sendo propriedade dos museus mais famosos do mundo.
Texto: Claire Rochet – Contributor
Foto de capa: Child with Cat, Pierre August Renoir. Oil on canvas, 1887. Musée d’Orsay, Paris.