Se pedissem para você pensar em uma pintura de uma bailarina, é quase certo que você imaginaria ‘Balé na Ópera de Paris’, ‘Bailarina com um buquê de flores’ ou muitas outras obras de Degas. As pinturas de Degas são sinônimo de balé e de sua estética. O pintor impressionista trabalhava mais por prazer do que por necessidade e o seu trabalho era fruto do seu fascínio pelos movimentos das bailarinas no espaço bidimensional. Existem linhas “implícitas” em suas pinturas, onde os olhos são atraídos pelas pinceladas e provocam uma sensação de movimento. Isso pode ser visto através do olhar do público e dos dançarinos, cada um olhando em direções diferentes e guiando o olhar do espectador de uma seção para a outra. Da mesma forma, com ‘Dançarina com um buquê de flores’, as linhas fluidas da garota e o fundo indicam que ela está dançando.
Além das expressões de movimento, Degas pode ser visto como um captador da realidade do mundo da dança; as cenas sem glamour e conturbadas de tal maneira que não vemos quando os dançarinos estão no palco. Esse recorte alternativo era proporcionado pelo tempo que passava na companhia de bailarinas, desenvolvendo uma conexão mais profunda e uma compreensão mais avançada das mesmas. Ganhou acesso aos bastidores desses eventos e aos espaços de ensaio, desenvolvendo uma certa relação “paternal” com as bailarinas. Assim, Degas observava o impacto de diferentes variáveis nas danças, exibindo todos os níveis de emoções e experiências. Em um soneto, ele escreveu que o “ar majestoso” criado sobre a figura da bailarina é passado por meio da maquiagem e da distância do público, e que a realidade só pode ser enxergada removendo esses elementos.
Enquanto pinturas como ‘Dançarino com um buquê de flores’ (acima) retratam a graça e a elegância que associamos aos dançarinos, muitas de suas obras apresentam essa visão alternativa, mais próxima, sem distância ou maquiagem. Degas preferiu retratar o balé removendo a poesia e o romance, tirando a ilusão e revelando o trabalho árduo, o tédio e a beleza cotidiana por trás de toda a montagem e performance. Ele passou um tempo estudando as imperfeições das dançarinas nos ensaios. Sua pintura ‘Ensaio de palco’ retrata isso. A natureza confusa e caótica de uma sala de ensaio nos permite imaginar como as dançarinas se sentiam enquanto esperavam para se apresentar. Ao comparar ‘Bailarina com um buquê de flores’ com ‘O ensaio do balé no palco’, pode-se observar a intenção de Degas em transmitir o lado mais ‘real’ do balé e não simplesmente o produto final de todo o trabalho duro.
Dancer with a Bouquet of Flowers. Edgar Degas, 1978.
Degas dedicou grande parte de seu tempo pintando a “vida moderna” em Paris que, na época, consistia em favelas e bordéis. Da mesma forma, o balé e a ópera estavam na moda entre os parisienses na década de 1870. Eles eram uma mistura de beleza clássica e realismo moderno, pois os dançarinos forneciam um entretenimento, mas, como tal, não eram respeitados em sua profissão. Indiscutivelmente, as pinturas de Degas retratam a natureza degradante do balé da época e a tensão sentida pelas meninas envolvidas ao serem objetificadas e sexualizadas pelos homens da platéia. Deux danseuses ou ‘Dois dançarinos’ exibe o esforço, tanto mental quanto físico, que é exigido das dançarinas. Embora não possamos ver seus rostos, as dançarinas parecem exaustas por causa de sua postura. O espectador pode sentir a emoção através da pintura e evoca uma certa empatia por essas meninas.
The Rehearsal of the Ballet on Stage. Edgar Degas, 1874.
O balé continua sendo um fenômeno romantizado aos olhos de muitos, porém, a obra de Degas exibe tal estilo de vida com mais amplitude. Ele foi capaz de nos revelar toda a parte “humana” da dança. Não há espaço para uma representação idealizada e, em vez disso, ele contribui com cenas reais do estresse e da tensão que o balé pode exercer sobre as bailarinas, especialmente no contexto da Paris dos anos 1870.
Two Dancers. Edgar Degas, 1879.
Texto: Georgia Licence
Junior Girl – Girl Museum Inc