Por: Julia Nakamura
Nascido da combinação entre a paixão pela história e o desejo de se aproximar de figuras icônicas como Ana Bolena, o projeto Royalty Now da designer e artista visual Becca Segavia é uma máquina do tempo que transporta diversos personagens históricos para os dias atuais.
“Crio essas imagens para que possamos conhecer o passado com um pouco mais de empatia pelas figuras envolvidas. Olhar nos olhos mais identificáveis das figuras famosas que conhecemos e amamos parece nos tocar em um lugar visceral.” Conta Becca em entrevista para o Clube MIS.
Filha de dois professores, Becca sempre se interessou por história, mas se sentia separada das pessoas citadas em suas aulas e livros “Sempre pensei na história mais como um filme do que como uma série de eventos reais.”
Becca começou uma pequena conta no Instagram para compartilhar as suas edições no início de 2018 “Vi pessoas por toda a internet criando imagens semelhantes com o que eu pensava em criar. Imagens como estátuas romanas coloridas, fotos antigas com cores adicionadas pelo Photoshop, e eu queria tentar.” Para a sua primeira criação, a artista escolheu a sua figura favorita, a Rainha Consorte do Reino da Inglaterra Ana Bolena.
“Decidi dar upgrade moderno para Ana, um cabelo que poderia se soltar de seu toucado, um pouco de maquiagem, um vestido moderno e, de repente, ela parecia real. Ela parecia alguém que poderia ficar bem na minha frente e me contar sua história de seus próprios lábios, em vez de alguém que está à mercê de historiadores e produtores de Hollywood.”
Desde 2018, Becca criou mais de 100 retratos de figuras do passado, desde os favoritos da história antiga até figuras quase modernas, como Abraham Lincoln. Mais recentemente, ela e seu marido criaram uma série de documentários históricos da Royalty Now, chamado Royalty Now Studios.
Confira a entrevista completa com a artista
De onde vêm suas maiores inspirações?
Das histórias da história. Eu diria que na verdade estou mais interessada em história do que em arte, sempre senti as histórias pessoais de pessoas do passado de forma realmente visceral. Acho que às vezes as pessoas esquecem que a história era “real” – o que parece bobo, mas acontece quando a história parece ser distante. Fico muito inspirada quando leio os pequenos detalhes sobre a vida histórica de uma pessoa. Por exemplo, Ana Bolena é uma das minhas figuras históricas favoritas, mas não sabemos muito sobre ela. Nunca ouvimos sua versão pessoal da sua história. No entanto, temos alguns registros interessantes. Por exemplo, sabemos quais roupas de bebê ela encomendou para sua filhinha Elizabeth (mais tarde Elizabeth I da Inglaterra), e em quais cores, etc. Sabemos que ela fez alguns rabiscos em seu livro de orações pessoal. Não sabemos quase nada sobre essa mulher, mas podemos fazer toda uma história a partir das roupas de bebê que ela encomendou para a filha e o que ela escreveu em seu livro de orações. Acho que detalhes como esse são realmente fascinantes e apontam para a condição humana. Ao longo de toda a história, cada pessoa teve alegrias, triunfos, tristezas, tédio e todas as outras emoções cotidianas que experimentamos.
Como você descreveria a estética do seu trabalho?
Atmosférico e esperançosamente visceral. Não estou tentando fazer uma representação completamente artística. Estou tentando fazer a pessoa parecer exatamente como ela parecia em seu retrato, apenas mais realista. Espero que, quando as pessoas estiverem vendo o meu trabalho, sintam a conexão com a figura do passado de uma forma que nunca sentiram antes.
Você sempre se interessou por personagens históricos?
Com certeza! Eu fui uma criança que se interessava pelas histórias mais mórbidas do passado, como o desastre do Titanic, Pompéia e as múmias egípcias. Embora seja meio estranho uma criança se interessar por esses temas, agora eu percebo que eu me interessava porque esses eventos nos deixaram artefatos muito bem preservados do passado, e isso faz com que a história pareça mais real para mim. Acho que é assim que eu resumiria meu trabalho – Tornar a história mais real.
Na sua opinião, qual é o maior desafio na produção artística independente?
Vulnerabilidade. Principalmente na era da internet, onde todo mundo tem algo a dizer e tem opinião sobre tudo. Eu sei que quando eu publicar uma obra de arte, todos terão uma opinião sobre como eu fiz, sobre como eu estilizei a figura, sobre o tom de pele da figura, sobre a roupa com que a vesti e etc. Eu tive que amadurecer e tentar manter minha própria visão com base na extensa pesquisa que faço em cada figura.
Na sua visão, qual o papel do artista hoje em dia?
Alegrar e explorar. Sempre fui da opinião de que “se te faz sentir alguma coisa, é arte”. Vivemos em um mundo agitado, acordando cedo, tentando ganhar dinheiro, se preocupando com o futuro. Quando eu vejo uma obra de arte bonita ou que me faça refletir, é quase como uma espécie de meditação. Leva você para fora da sua cabeça por um momento para apreciar algo bonito ou instigante.
Se a arte é uma linguagem universal, o que você tenta comunicar às pessoas através da sua arte? Empatia. Empatia por uma pessoa do passado que tinha sentimentos, esperanças e sonhos como cada um de nós. Tenho vontade de ensinar as pessoas sobre os acertos e erros do passado, quase como uma forma de lembrar que a história nem sempre precisa se repetir. Se realmente aprendermos e tivermos empatia com o passado, podemos evitar cair nas mesmas armadilhas que as pessoas caíram ao longo da história.
Saiba mais sobre o trabalho de Becca