Jaider Esbell (1979 – 2021), artivista (como preferia ser chamado), escritor e produtor cultural indígena da etnia Makuxi, nasceu em Normandia, cidade do estado de Roraima, onde viveu até seus 18 anos. Participou da 34ª Bienal de São Paulo, expondo uma série de pinturas intitulada “A guerra dos Kanaimés”, feita especialmente para a mostra. A arte dos povos originários ainda luta contra seu silenciamento, buscando cada vez mais ocupar espaços e reforçar sua identidade em locais majoritariamente brancos. O trabalho de Esbell caminha em meio a esse cenário.
Grandes museus — e o mercado da arte em geral — nunca foram lugar de minorias, sejam elas mulheres, negros, LGBTQI+, indígenas e etc. Sendo isso um reflexo da sociedade, estamos acostumados a frequentar e prestigiar exposições de artistas homens, brancos e europeus. No dia 28/08/2021, Duhigó, artista visual amazonense, se tornou a primeira mulher indígena a ter uma obra exposta no Museu de Arte de São Paulo. No dia 04/09/2021, a Bienal abriu suas portas, contando com o maior número de artistas indígenas desde sua primeira edição em 1951. A arte contemporânea feita por minorias vai brigando pelo seu espaço e tentando mudar a realidade do sistema de arte criado pelos colonizadores.
Esbell, que não esteve apenas na 34ª Bienal como artista, mas também como curador de outra exibição no vizinho MAM (Museu de Arte Moderna), impactou com suas obras os visitantes que caminhavam pelos corredores da mostra. A série “A guerra dos Kanaimés”, produzida entre 2019 e 2020, cria cenas a partir do mito dos Kanaimés (descritos como espíritos fatais, capazes de provocar a morte de quem os encontra). Observamos plantas, animais e cores que provocam diversas sensações. É uma obra eletrizante que parece, muitas vezes, estar emitindo sons e chamando o público para entrar naquele mundo espiritual e cosmológico. Isso exige uma imersão por parte de quem olha os quadros, já que há todo um trabalho com a ancestralidade indígena.
Os primeiros trabalhos de Jaider Esbell apresentavam maior linearidade, cores constantes e homogêneas e sem muitas sobreposições. Em suas últimas obras, é possível notar mais entrelaçamentos entre figura e cores, textura e densidade. O fundo preto destaca o que está por cima pintado com tinta acrílica e caneta Posca, irradiando uma certa magia e frescor. Nas culturas indígenas, não existe segmentação entre as coisas do mundo, o indivíduo e o coletivo, o espiritual e o material. Tudo está em harmonia — e é isso que parece estar representado na obra de Esbell. Política e arte estão profundamente conectadas, mesmo quando parecem não estar. Museus devem ser desafiados e ocupados cada vez mais por identidades que sempre foram apagadas de seus acervos e exposições. Jaider Esbell evidencia isso em todo seu trabalho e discurso, sempre se posicionou contra a homogeneidade de narrativas, tendo ele mesmo exigido presença de mais indígenas na Bienal; enfatizando que a mostra ocorre em território guarani, ele traz reparações históricas
Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real